Elize Matsunaga na prisão: a jornada de uma assassina, sua liberdade condicional e o legado de um crime que chocou o Brasil

Elize Matsunaga na prisão: a jornada de uma assassina, sua liberdade condicional e o legado de um crime que chocou o Brasil

Em 19 de maio de 2012, Elize Matsunaga, então com 38 anos, atirou no marido, o empresário rico Marcos Kitano Matsunaga, na cabeça, esquartejou o corpo, colocou os pedaços em malas e descartou os restos em uma mata perto de São Paulo. O crime, que chocou o Brasil e virou manchete internacional, não foi apenas um ato de violência — foi um colapso emocional, financeiro e moral que ainda ressoa na cultura popular. Hoje, ela cumpre pena na Penitenciária Feminina de Tremembé (oficialmente Doutor José Augusto César Salgado Penitentiary), com liberação total prevista para 2035. Mas o que acontece dentro dessa prisão — e fora dela — é mais complexo do que parece.

A prisão dos famosos: vida sob vigilância e regime semi-aberto

A Penitenciária Feminina de Tremembé, localizada em Taubaté, interior de São Paulo, é conhecida como a "prisão dos famosos". Lá, detentas de alto perfil — como Elize Matsunaga e Suzane von Richthofen — são isoladas em uma ala chamada Santa Maria Eufrásia Pelletier, para evitar conflitos e proteger sua integridade. Até 2022, ela estava em regime fechado. Desde então, avançou para o regime semi-aberto, com tornozeleira eletrônica e permissões de saída de até sete dias por mês. Essas saídas, que parecem paradoxais, foram essenciais para sua reabilitação e, ironicamente, para a construção de sua narrativa pública.

Em 2021, durante uma dessas licenças, ela gravou a série documental da Netflix, Elize Matsunaga: Once Upon a Crime. Foi a primeira vez que voltou a ver o sol livremente desde 2012. "Eu sei que tem gente que entende o que aconteceu. Tem gente que me odeia. E tem gente que me julga. E tudo bem. É a opinião deles", disse ela na série. Mas o que realmente a moveu a falar? "Passei todos esses anos longe da minha filha. Tive medo de não encontrá-la de novo. Queria ter a chance de dizer a ela o que realmente aconteceu. Olha, querida, eu tentei ser diferente. Tentei não errar. Mas não consegui."

Do assassinato à verdade: o que realmente aconteceu naquela noite?

Segundo relatos do processo e da própria Elize, o crime não foi impensado. Ela havia contratado um detetive particular para investigar as infidelidades do marido. Ao retornar de visitar a tia, confrontou Marcos. Ele teria ameaçado levá-la à instituição psiquiátrica, colocar a filha em tratamento e, segundo ela, lhe deu um tapa. Foi então que ela pegou uma das armas de caça que tinham em casa — uma pistola — e atirou. O resto foi caos.

A cena pós-morte é de um horror quase cinematográfico: esquartejamento com uma serra, sacos de lixo, malas e o elevador do prédio como meio de transporte. A polícia nunca encontrou a serra usada no crime — apenas uma mais antiga, que eles usavam para abrir garrafas de vinho. A serra de verdade, segundo a defesa, foi jogada em um rio. O dinheiro do marido — estimado em mais de R$ 12 milhões — foi um fator central no julgamento. Elize alegou que o casamento era tóxico, que ele a controlava financeiramente e que a ameaçava com a perda da filha. Mas o tribunal entendeu que o crime foi premeditado, mesmo com a redução da pena por confissão.

Do documentário à série: o culto à verdadeira criminalidade brasileira

O caso Elize Matsunaga não morreu na justiça. Ele ganhou vida na mídia. A Netflix, em 2021, transformou sua história em um documentário que virou fenômeno de streaming. Agora, em 31 de outubro de 2025, a Prime Video estreia Tremembé, uma série dramatizada produzida pela Paranoid para a Amazon MGM Studios. Dirigida por Vera Egito, a série conta, em cinco episódios, não só a história de Elize — interpretada por Carol Garcia —, mas também a de Suzane von Richthofen, em uma comparação implícita sobre classe, poder e feminilidade violenta no Brasil.

As fontes são os livros de Ulisses Campbell, jornalista que se tornou o principal contador de histórias de crimes reais no país — comparado por alguns à David Fincher, mas com raízes profundas na realidade brasileira. "Essa série mostra quanto nosso país cresceu no storytelling cinematográfico", diz a descrição no IMDb. E é verdade. Não é só sobre violência. É sobre como a sociedade se espelha em mulheres que quebram regras — e como a mídia as transforma em ícones.

Novos rumos: transferência e o futuro da Penitenciária de Tremembé

Novos rumos: transferência e o futuro da Penitenciária de Tremembé

A prisão onde Elize cumpre pena está em transformação. Segundo informações do YouTube da omeleteve, os detentos serão transferidos para a nova unidade em Potim, enquanto a ala P2 de Tremembé será reestruturada para abrigar apenas presas em regime semi-aberto. Isso significa que, mesmo dentro da prisão, ela está em um processo de reestruturação — assim como sua própria vida. Ela não está mais isolada como uma figura de terror. Está sendo reintegrada, lentamente, à sociedade.

Ela mantém um relacionamento com outro detento, Sandrão, segundo relatos do Mixvale.com.br. Não há confirmação oficial, mas o fato de ela ter acesso a visitas, telefonemas e atividades como oficinas de artesanato e costura sugere que, mesmo atrás das grades, ela está sendo tratada como alguém com potencial de reinserção — e não apenas como uma assassina.

Por que isso ainda importa?

Porque Elize Matsunaga não é só uma criminosas. É um espelho. Um espelho da desigualdade de gênero, da violência doméstica silenciosa, da pressão por riqueza e controle, e da forma como a mídia brasileira transforma tragédias em espetáculos. Ela não é heroína. Nem vilã. É uma mulher que fez algo inimaginável — e agora vive com as consequências, enquanto o país continua a consumir sua história.

Frequently Asked Questions

Quando Elize Matsunaga poderá sair definitivamente da prisão?

Elize Matsunaga tem previsão de liberação completa em 2035, após cumprir 16 anos de pena — reduzidos dos 19 anos e 11 meses originais por confissão. Desde 2022, ela está em regime semi-aberto, com saídas periódicas de até sete dias, e tornozeleira eletrônica. A liberdade definitiva depende de avaliação do sistema prisional e da ausência de novas infrações.

Como ela conseguiu gravar a série da Netflix enquanto estava presa?

A Netflix gravou o documentário durante as licenças semanais permitidas pela lei brasileira para presas em regime fechado que demonstram bom comportamento. Elize saiu da prisão por períodos curtos, sob vigilância, para dar entrevistas, recriar cenas e filmar locais relevantes. Isso foi possível porque ela colaborou com a justiça e não apresentou indícios de risco.

A série 'Tremembé' é fiel à realidade?

A série dramatiza eventos reais, mas usa licença artística. Baseada nos livros de Ulisses Campbell, ela mistura fatos com interpretações emocionais. A atuação de Carol Garcia como Elize busca capturar a complexidade da personagem — não apenas o crime, mas o contexto de abuso e isolamento. Não é um documentário, mas um retrato psicológico.

Elize Matsunaga ainda tem contato com a filha?

Sim, mas o contato é limitado e supervisionado. A filha, agora adolescente, vive com familiares do pai. Elize mencionou na série da Netflix que seu maior arrependimento é não ter crescido ao lado da menina. A justiça permite visitas mensais, mas não autoriza a guarda ou convivência diária, por razões de segurança e bem-estar infantil.

Por que a prisão de Tremembé é tão famosa?

Tremembé abriga alguns dos crimes mais notórios do Brasil, como os de Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga. A unidade tem uma ala exclusiva para presas de alto perfil, com estrutura diferenciada e segurança reforçada. A mídia a chama de "prisão dos famosos" porque é ali que a elite criminosa brasileira é mantida — e observada.

O que acontece com o patrimônio de Marcos Matsunaga após a morte?

Após o assassinato, a fortuna de Marcos — estimada em mais de R$ 12 milhões — foi dividida entre a filha e familiares do falecido. Elize não herdou nada, pois a lei brasileira impede que assassinos recebam bens da vítima. Parte do patrimônio foi usada para pagar custas judiciais e indenizações. A filha é a única herdeira legal.